quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Eu te amo????

Aproximadamente vinte e três horas e cinqüenta e sete minutos, de um entre tantos dias de início de ano, no qual o calor parece subir pelo chão oriundo do próprio inferno. Na mão direita, uma lata de cerveja, no canto da boca um sorriso solitário. Daqui de cima desse terraço eu vou espiando a rua, começando a ficar mais calma, fato comum em dias de semana de uma cidade interiorana.
Puxo a cadeira de palha trançada, antiga, palha trançada sobre canos de ferro, histórica, palha trançada em cima do suor de algum artesão que sequer vi quem era, ou quem foi, já que a cadeira é muito mais velha que meus 27 verões. No mp4, sambas de Noel Rosa na voz de Ivan Lins, coletânea que conheci a muitos anos no som do carro de um tio em uma das viagens pra capital.
Na cabeça, um nó, uma confusão mental que contrastava diretamente com a calmaria da paisagem. Na contramão da cidade que vai dormir, eu desperto. E no sentido oposto da singela expressão “eu te amo” eu questiono.
Porque acho tão difícil dizer isso? Porque acho tanta aberração no sentido que as pessoas a meu redor utilizam essa expressão? Procurar expressar os sentimentos através de uma frase tão sagrada.
Para poucas pessoas nessa encarnação eu disse essa frase sem dificuldades. E até hoje me pergunto se eu deveria ter dito. Acho q sou diferente. Amo, meu pai, minha mãe e meus irmãos. Fui apaixonado por algumas mulheres, e algumas vezes acho que cheguei perto de amar. E hoje vejo várias vezes todo mundo amando todo mundo, na rua, nos papos de bêbado, na “rede”. O discurso é sempre o mesmo: eu amo isso, eu amo lápis, eu amo carne, eu amo você.
. Pessoas amam cobiçar o que é das outras. Amam implantar desconfiança. Amam aquilo que sequer tem sentimento pra entender o verdadeiro significado de se amar. Nem mesmo o poeta contemporâneo tem a capacidade de amar como em outros tempos.
O que refleti meu caro leitor, nessa madrugada sentado na cadeira de palha trançada, é que banalizaram uma das coisas mais puras, que nossos pais carregavam com tanto carinho e tentaram transmitir pra nossa geração: o ato de amar.
Ame seus pais. Ame sem pedir nada em troca. Ame de forma pura, e principalmente, ame a si mesmo. Amar não é dizer, e é feio dizer quando não se ama. Não diga que ama se você carrega na outra mão uma faca para enterrar nas costas. Não ame se não for com toda força. Traga pra si quando amar e se preciso for, renuncie por quem se ama.
Renato Russo, dizia que precisamos amar como se não houvesse o amanha, e o que mais vejo pelas pessoas que amam, é que elas amam sem pensar no amanha coletivo, ou do outro. Platão mesmo definiu que a forma mais sincera de amar, é amar desprendido de egoísmo, amar o outro e não pelo outro.
Sigo “amargurado” como já me disseram, mas portador do tradicional método das gerações de nossos pais. Eu tento dizer eu te amo somente quando sinto, e ainda trava na barreira da língua. É fácil provar o amor com palavras, é trivial.
Prove com ações. Ame fazendo. Ame respeitando. Se machuque amando, mas não machuque quem você ama.

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